Mais prazo e menos juros dão fôlego ao mercado imobiliário
Regras que permitem quitação de contratos em 35 anos na Caixa entram em vigor e animam imobiliárias. Estagnação nas vendas já deu lugar à expectativa de crescimento acima de 20%Descritas como um fôlego e novo impulso para o mercado imobiliário, as novas regras de financiamento imobiliário da Caixa Econômica Federal (CEF) já estão em vigor. Desde ontem, o prazo máximo para quitar o crédito para aquisição da casa própria, antes de 30 anos, foi ampliado em 60 meses. Somado ao alongamento do prazo, as taxas de juros passaram por nova revisão, podendo chegar a 7,8% ao ano, contra os 10% aplicados anteriormente, de acordo com o grau de relacionamento do cliente com o banco. Segundo simulação da Caixa, em um financiamento no valor de R$ 267 mil para correntistas, a prestação cairá de R$ 3 mil para R$ 2.604, redução de 13%.
A nova política deve reaquecer o setor, que sofre desde o fim de 2011 o contínuo processo de acomodação e redução das taxas de crescimento. Somente no primeiro trimestre deste ano, as vendas em Belo Horizonte caíram mais de 12% em relação ao mesmo período de 2011, enquanto os lançamentos foram 14,4% menores e a velocidade de vendas quase 6% inferior, segundo levantamento do Sindicato da Indústria da Construção Civil de Minas Gerais (Sinduscon-MG).
Braulio Lara, diretor administrativo financeiro da Aceti Imóveis/ Netimóveis, estima uma retração ainda maior, na casa dos 40%, desde setembro do ano passado. “Nos quatro últimos meses de 2011 o mercado praticamente parou, depois de estourada a crise na Europa”, lembra. Em janeiro, houve uma retomada discreta dos negócios, que somente no último mês ganharam fôlego. “A alta foi de cerca de 30% em relação ao movimento médio registrado entre janeiro e abril. A demanda ficou reprimida durante muito tempo e o reaquecimento está sendo estimulado pelo corte das taxas de juros”, avalia Braulio.
Eduardo Novais, diretor da área das corretoras de imóveis da Câmara do Mercado Imobiliário e Sindicato das Empresas do Mercado Imobiliário de Minas Gerais (CMI/Secovi), acredita que nos próximos dias a procura aumente em 15% a 20%. “E, consequentemente, o fechamento de negócios, que também deve crescer nessa mesma taxa”, estima.
Para Ariano Cavalcanti de Paula, presidente do Secovi-MG, “a redução de 0,5% nos juros, aliada à ampliação do prazo de pagamento, reduz significativamente o valor da prestação, aumentando o acesso ao crédito para uma parcela maior de pessoas que antes não conseguiam contratar o financiamento”.
Paciência
De olho no benefício, o engenheiro Aguinaldo Maia Araujo esperou as regras entrarem em vigor para solicitar o financiamento à Caixa. “Queria ter fechado o negócio há um mês, mas como ouvi dizer que haveria uma redução das taxas, resolvi esperar”, conta. O esforço valeu a pena, já que ele também ganhou o benefício de diluir ainda mais o valor da prestação. “A minha prestação caiu R$ 300 por conta da queda dos juros. Estou fechando negócio na hora certa”, comemora.
A gerente administrativa Débora Cunha Nacif Osório espera que, com o novo empurrão, consiga realizar o sonho de comprar um apartamento, expectativa que já se arrasta por três anos. “Essas mudanças garantem mais segurança na compra, por oferecerem um prazo mais longo. Achei ótimo e vou fechar negócio”, afirma. As regras valem apenas para os novos contratos e não serão retroativas. Além disso, serão aplicadas a financiamentos que utilizem recursos da poupança (SBPE), excluindo aqueles que fazem uso do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).
Daqui para o futuro
Recursos do GTS na mira
Apesar de as mudanças anunciadas pela Caixa não valerem para financiamento com recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) – que inclui o Programa Minha casa, minha vida –, o assunto está em discussão pelo Conselho Curador do FGTS. Segundo o vice-presidente de Governo e Habitação da Caixa, José Urbano Duarte, a instituição já pediu ao conselho autorização para extensão do prazo de 35 anos também para essa modalidade de financiamento. A medida pode ser mais um impulso para que a Caixa feche 2012 com R$ 100 bilhões em concessão de crédito imobiliário, superando os R$ 80 bilhões de 2011.
Novos cortes são pouco prováveis
Apesar das expectativas quanto a novas reduções das taxas, o gerente regional de habitação da Caixa em Minas Gerais, Marivaldo Araújo Ribeiro, garante que há pouca margem de manobra para novos cortes. “Existe todo um cálculo de risco dessa operação. Além disso, as taxas hoje já estão bastante reduzidas”, pondera. Novas reduções na taxa Selic que estão sendo esperadas nas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) não devem surtir efeito imediato nas linhas de financiamento imobiliário. “As taxas no mercado comercial, como empréstimo pessoal, são mais atreladas à Selic, o que não é o caso da habitação”, acrescenta Marivaldo.
Ainda segundo o gerente regional de habitação da Caixa, as mudanças recentes só foram possíveis com a alteração da base de cálculo da poupança, que passou a remunerar 70% da taxa Selic somada a Taxa Referencial (TR). “Abriu-se espaço para a redução das taxas por conta da queda na remuneração, mas há margem muito pequena para novas reduções. Portanto, quem achar um bom negócio agora deve concluir a operação”, avalia o especialista.
Apesar de responder por 73% do mercado de financiamento imobiliário no país, a Caixa não é a única opção para quem procura as melhores condições de crédito habitacional. Para garantir bons negócios, é importante negociar com outros bancos, já que a tendência é de que as demais instituições financeiras acompanhem o movimento do banco público. A começar pelo Santander que, a partir de 6 de julho também passa a praticar prazo máximo de 35 anos para financiamento da casa própria.
No Banco do Brasil, nova política de reajuste para crédito imobiliário já está valendo desde o início do mês. Para aquisição de imóveis com valor de até R$ 500 mil, por exemplo, a taxa de juros foi reduzida de 10% ao ano mais Taxa Referencial (TR) para 8,9% ao ano mais TR para todos os clientes do banco. Com o pagamento das prestações em dia, a taxa cairá para 8,4%, podendo chegar a 7,9%, no caso de o cliente manter a conta salário no banco.
Cautela O advogado e presidente da Associação Brasileira dos Mutuários da Habitação (ABMH), Leandro Pacífico, aconselha os interessados em comprar a casa, própria a terem cuidado. “Aquela pessoa que achou o imóvel dos sonhos deve aproveitar o momento. Mas quem ainda vai começar a olhar deve ter calma”, afirma. Com o desaquecimento do mercado imobiliário, o consumidor ganha maior poder de barganha e a possibilidade de garantir melhores negociações.
“Essa foi, inclusive, uma das motivações para redução das taxas: reaquecer o mercado”, pondera. Além disso, o ideal é comprometer entre 25% e 30% da renda com a prestação e tentar quitar a dívida em um prazo médio de 25 anos, o que, segundo estatísticas da Caixa, é o mais comum. “Hoje, a média do financiamento é de 292 meses, pouco menos de 25 anos”, afirma Marivaldo.
(PT)
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